Populismo econômico do governo atrasa queda dos juros

Populismo econômico do governo atrasa queda dos juros

No mercado, está crescendo o número de especialistas que acreditam na estagnação da alta da taxa Selic. Em maio, a taxa alcançou seu patamar mais alto desde 2006, de 14,75%. Apesar dos bancos centrais não garantirem a tendência de estabilidade ou diminuição, alguns veículos consideram que há um otimismo crescente. Isso ocorre em relação à necessária desaceleração da economia para manter a inflação dentro da meta de 3%.

Um economista, Sérgio Belém Teixeira, avalia que o Brasil está em um momento decisivo na política monetária. Segundo ele, os fundamentos econômicos indicam uma possibilidade de que a taxa básica de juros, a Selic, já alcançou seu teto, o que abre espaço para um movimento de afrouxamento monetário a partir do fim do primeiro trimestre do próximo ano.

No entanto, Belém alerta que o governo federal está dificultando esse processo com medidas que vão na contramão do Banco Central. “Infelizmente, o governo está remando contra o BC”, afirma. “Enquanto a autoridade monetária eleva juros para conter a inflação, o Executivo insiste em medidas populistas, com incentivo ao crédito, o que gera um efeito colateral inflacionário.”

Em 2025, o governo reforçou programas que incentivam o acesso ao crédito, como o PRONAMPE, o Programa Acredita e o Crédito do Trabalhador. Belém observa que, se houvesse cooperação institucional, o corte de juros poderia começar ainda esse ano.

Além disso, há uma influência externa que afeta o câmbio e o fluxo de capitais. A desvalorização do dólar, puxada por incertezas na política norte-americana, tem sido um fator relevante. “Toda a questão nos Estados Unidos, especialmente com a condução tarifária agressiva de Donald Trump, está provocando um enfraquecimento do dólar em relação a várias moedas”, explica Belém.

Ele ressalta que, mesmo com a queda gradual da Selic, o Brasil deve ver uma redução no fluxo de capitais externos, especialmente os ligados ao carry trade. “À medida que os juros caem, esse capital tende a retornar à sua origem, aos mercados de risco menor”, destaca. “O dinheiro que veio dos EUA para surfar os juros brasileiros começa a sair quando essa vantagem desaparece.”

Com isso, a tendência é que o real sofra alguma desvalorização, ainda que moderada. Belém projeta o câmbio na faixa de R$ 5,60 a R$ 5,70 até o fim do ano, com possibilidades de recuos pontuais para R$ 5,50 em momentos de menor aversão ao risco.

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