Marina Silva e o vitimismo estratégico

Marina Silva e o vitimismo estratégico

A condição de vítima sempre foi um recurso político valioso para a esquerda. A lógica por trás disso é simples: quando alguém se apresenta como vítima, seus erros são justificados, sua moralidade é reforçada, e sua palavra se torna irrepreensível. Quem ousaria questionar alguém que sofre? Essa estratégia de poder, bem analisada por Pascal Bruckner em “A Tirania da Penitência”, se tornou um instrumento de controle: mais sofrimento equivale a mais poder.

Longe de ser um fenômeno casual, o que chamo de vitimismo estratégico é cultivado em aparelhos de hegemonia, como universidades, média e indústria do entretenimento, além de um ecossistema ideológico que aprendeu a instrumentalizar o sofrimento. Segundo Douglas Murray em “A Loucura das Multidões”, “o status de vítima se tornou uma moeda de poder. Quem a reivindica pode reescrever regras, cancelar adversários e dominar instituições”.

Movimentos identitários contemporâneos, com base em questões raciais, sexuais ou de gênero, passaram a reivindicar privilégios em nome de opressões passadas ou simbólicas, reais ou fictícias. Isso lhes dá o direito de reclamar, denunciar e cancelar, sem a necessidade de persuasão racional; basta a acusação.

O ressentimento político não busca justiça, mas sim a inversão das hierarquias. O vitimismo fornece exatamente isso: a inversão do mérito, da razão e da hierarquia. Em vez de liberdade, cultuamos o ofendido; em vez de coragem, defendemos o direito à censura; e em vez de verdade, monopolizamos a dor. Segundo Roger Scruton em “Toles, Tr Rafos e Fogueiras”, “o ressentimento é o novo critério de verdade”. Quem se diz ofendido está automaticamente certo, e o debate é arbitrariamente encerrado.

O vitimismo é o álibi preferido de quem deseja poder sem responsabilidade. O que se busca não é direito, mas vingança; não é reparação, mas controle. A verdadeira vítima precisa de justiça, enquanto o falso vitimista busca apenas o palco.

Marina Silva e o discurso de vitimização no Senado Federal foram apenas mais um exemplo do vitimismo estratégico. A esquerda revolucionária muda de disfarce, mas não de fundamental natureza. Ao invés de argumentos, recorre à pose, ao grito e à denúncia, buscando controlar o debate com a figura da vítima.

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