Lentidão e burocracia travam setor de tecnologia na Europa

Lentidão e burocracia travam setor de tecnologia na Europa

A indústria de tecnologia está avançando a passos largos em todo o mundo, mas a Europa está ficando para trás. Um artigo recente publicado pelo Wall Street Journal (WSJ) destaca que o continente abriga apenas quatro das 50 maiores empresas de tecnologia do mundo, apesar de ter uma população numerosa, altos níveis de educação e representar 21% da produção econômica global.

Entre as causas para esse atraso, estão a cultura empresarial avessa ao risco, regulamentações complexas e leis trabalhistas rígidas, além de escassez de capital de risco e baixo crescimento econômico e demográfico. Segundo o WSJ, a Europa tem dificuldade em criar empresas disruptivas, enquanto os EUA geraram 241 companhias com valor de mercado superior a US$ 10 bilhões nos últimos 50 anos, e a Europa criou apenas 14.

Thomas Odenwald, um executivo alemão que tentou fomentar a inteligência artificial (IA) na Alemanha, lamentou a velocidade com que as coisas mudam no Vale do Silício e expressou a opinião de que a Europa não consegue acompanhar essa rapidez. Ele retornou da América do Norte após dois meses, sem sucesso em sua empreitada.

A lentidão é um fator recorrente, segundo Karlheinz Brandenburg, inventor do formato MP3, que lembrou que empresas europeias não apostaram em seu projeto devido à cautelosidade excessiva. Fabrizio Capobianco, um empreendedor italiano, também destacou a diferença entre os norte-americanos e os europeus, argumentando que os primeiros tomam decisões rapidamente, enquanto os segundos precisam conversar com todos, o que “leva meses”.

Além da lentidão, há entraves regulatórios. Han Xiao, fundador da startup Jina AI, transferiu sua empresa de Berlim para os EUA devido às barreiras na contratação e demissão de funcionários, além de dificuldades em levantar capital. A legislação também pesa no orçamento, com empresas europeias gastando 40% de seus orçamentos de tecnologia da informação apenas para cumprir normas regulatórias.

Empresas promissoras preferem estabelecer relações com companhias norte-americanas, como a DeepMind, adquirida pela Alphabet, dona do Google, em 2014. A francesa Mistral AI firmou acordos com Microsoft, Google e Amazon, e a holandesa Bird anunciou que transferirá suas operações principais para fora da Europa, devido a restrições regulatórias.

Apesar das dificuldades, a Europa possui centros de pesquisa de excelência e profissionais altamente qualificados, que muitas vezes integram empresas norte-americanas. Investimentos de capital de risco têm crescido, com a chegada de grandes firmas, como Sequoia e Lightspeed, e casos de sucesso, como Spotify, Revolut e Klarna, demonstram que há potencial. No entanto, analistas como Andrew McAfee destacam que o problema principal é a escassez de capital privado, em razão de regulações e barreiras estruturais.

O artigo do WSJ conclui que, enquanto os EUA e a China investem fortemente em IA e outras tecnologias emergentes, a Europa corre o risco de perder mais uma revolução tecnológica e repetir o que já ocorreu na era digital.

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